Especial agradecimento ao Dr. Mário Silva (do serviço de Anatomia Patológica dos HUC) pela sua disponibilidade na cedência das fotografias do exame histológico e na interpretação das mesmas, e
a Dra. Catarina Fontes selleck chemical (do serviço de Radiologia dos HUC) pelo interesse no caso clínico. “
“O vírus da hepatite D (VHD) pertence à família Deltaviridae e é o único vírus animal satélite conhecido 1. Foi descoberto em 1977 por Mario Rizzetto et al., em Itália 2. É um vírus de ARN que necessita da presença do vírus da hepatite B (VHB) para completar o seu ciclo biológico, pelo que a infecção pelo VHD ocorre apenas em doentes infectados pelo VHB1 and 3. O seu genoma, o mais pequeno do reino animal, contém apenas 1700 nucleótidos, sendo constituído por um ARN circular, que codifica uma proteína estrutural que é o antigénio Apoptosis inhibitor (Ag) delta2 and 3. O virião do VHD consiste num complexo formado pelo ARN-VHD e o Ag delta, protegidos por um envelope proteico constituído pelo AgHbs. O AgHBs é necessário para a transmissão e replicação do VHD que ocorre exclusivamente no
núcleo dos hepatócitos. Estão identificados 8 genótipos do VHD, cada um com curso clínico e localizações geográficas características4 and 5. Estima-se que mundialmente 15 a 20 milhões de doentes estejam infectados pelo VHD, correspondendo a 5% dos doentes com infecção crónica pelo VHB3. O vírus partilha as vias de transmissão associadas ao VHB, nomeadamente parentérica, sexual e intrafamiliar2. O VHD é transmitido apenas a indivíduos com infecção pelo VHB, podendo ocorrer em doentes com infecção crónica prévia pelo VHB (superinfecção) ou ser adquirido concomitantemente aquando da infecção aguda pelo VHB (coinfecção). No primeiro caso, pode manifestar-se com quadros de exacerbação de doença estável e possui habitualmente caráter dominante e de repressão sobre o VHB. O diagnóstico baseia-se no doseamento dos marcadores serológicos e da carga viral de ambos os vírus 1 and 2. Doentes com doença hepática crónica VHD-VHB têm indicação para tratamento, devendo este ser dirigido ao vírus dominante3 and 4. Apresentamos um doente do sexo masculino, 42 anos de idade, natural
da Moldávia, residente em Portugal, desde 2001. Assintomático, referenciado à consulta de Hepatologia em fevereiro 2005 por infecção crónica VHB, conhecida desde os 28 anos de Baricitinib idade, sem sintomas na altura do diagnóstico. Referia relações sexuais não protegidas, mas negava o consumo de drogas endovenosas, transfusões sangue, tatuagens ou piercings. Referia abstinência alcoólica, no último ano, e consumo inferior a 30 g/dia, nos 15 anos anteriores. Desconhecia a existência de doença hepática em qualquer familiar. O exame objetivo não mostrava alterações. Analiticamente, verificou-se elevação das aminotransferases (ALT 107 UI/L; valor de referência (VR) < 41 UI/L) e confirmou-se a presença de infecção pelo VHB: AgHBs, AcHBc total e AcHBe positivos e AcHBc IgM e AgHBe negativos, apresentando ADN-VHB igual a 1,8 × 103 UI/mL.